27 de julho de 2015

Amarração da Barriga durante a Gravidez


Durante a minha terceira gravidez, eu tive pródromos super desconfortáveis - pródromo é o trabalho de parto que parece começar e parar, e pode durar dias. Para mães veteranas como eu, isso pode ser especialmente enlouquecedor, porque achamos que depois de dois filhos, saberíamos como é o início do trabalho de parto. Mas os pródromos nos enganam bastante.

Algumas parteiras acreditam que o pródromo é mais comum em mães que já estiveram grávidas, pelo menos algumas vezes. A sabedoria diz que os músculos abdominais e o útero do mãe veterana já foram esticados, de modo que a barriga é mais relaxada do que a barriga de uma mãe de primeira viagem. Esse relaxamento da barriga, permite que o bebê tombe para a frente, fora do colo do útero, fazendo o trabalho de parto retardar ou parar. Um dos sinais mais claros desta situação é se as contrações parecem mais fortes quando a mãe está inclinando-se para trás em uma posição reclinada (onde o bebê iria colocar mais pressão sobre o colo do útero), e mas lento ou enfraquece quando ela se levanta ou se agacha (onde o bebê tombaria para frente novamente.)

Um dos truques que as parteiras tem para lidar com isso é a amarração da barriga.

Várias parteiras e doulas me aconselharam a amarrar minha barriga quando eu estivesse no final da minha terceira gravidez, mas eu não conseguia descobrir exatamente com o que amarrá-la. Então, um dia meu amigo me enviou um sling de argola, feito com algodão elástico, e uma luz se acendeu na minha cabeça. O sling foi a coisa perfeita para amarrar a minha barriga e fornecer o suporte exatamente onde eu precisava.

Eu só queria ter descoberto esse truque mais cedo. O sling ajudou a sustentar a minha barriga e fornecer uma pressão-contrária sobre meus quadris para aliviar todos os tipos de dores na gravidez. Usando esta técnica, eu era capaz de andar por um museu com os meus filhos por mais de quatro horas, grávida de 40 semanas, e ainda me sentir muito bem no final do dia. Eu usava o sling o dia todo, durante todos os dias, e quando o trabalho de parto começou, eu mantive o sling amarrado até o momento em que eu estava pronta para entrar na banheira. 





Dicas:

- Use um sling elástico, de algodão ou jersey. Um sling elástico irá fornecer um apoio mais confortável e flexível.

- Amarre o sling em torno de sua barriga, com as argolas começando mais perto do meio das costas. Enquanto você puxa o tecido através da argola, os anéis vão naturalmente deslizando mais em direção a seu quadril, e deve parar exatamente ao seu lado. Você pode ter que experimentá-lo algumas vezes antes de descobrir exatamente por onde começar.

- Uma vez que estiver posicionado no lugar, espalhe o tecido para fora em toda a sua volta, e ajuste até que esteja confortável.

- Aperte a parte inferior apenas o suficiente para se sentir apoiada, mas não tanto que impeça o bebê de descer. Parteiras recomendam a aplicação de maior pressão na metade superior da barriga para que o bebê seja suavemente puxado para dentro e para baixo.

- Você pode usar qualquer tamanho de sling que você tiver, até aconteceu de eu usar um "Mini Sling", que é na verdade um sling de brinquedo, de tamanho infantil. Eu gostava, pois ele tinha menos tecido do que um sling adulto de tamanho normal. O que significava que eu não parecia ter esquecido o bebê em casa. A maioria das pessoas achava que era uma espécie de cinto de designer ou envoltório próprio para a barriga que eu havia comprado.

Se você é uma mãe veterana experimentando pródromos, ou uma mãe de primeira viagem carregando um bebê particularmente pesado, slingar a barriga pode proporcionar conforto e apoio nesses últimos meses de gravidez.


Mais no Facebook de The Feminist Breeder
Veja mais sobre a amarração de barriga no contexto cultural em The Band Specialist

14 de julho de 2015

As coisas que ouvimos quando Slingamos

Carregar o bebê no sling é algo que não envelhece e não sai de moda. Uma prática que veio dos nossos antepassados (veja a história do sling aqui) e mesmo assim causa as mais diversas reações nas pessoas que cruzam com alguém slingando.

Recentemente me deparei com um comentário em um grupo de Facebook onde a mãe afirmava que foi questionada se carregava um cachorro no sling, por uma senhora que provavelmente estranha a possibilidade de uma mãe slingar o próprio bebê. Outra afirmava que um rapaz achou que fosse um Koala! Sim, parece ser mais normal amarrar um animal exótico ao corpo, do que a própria cria.

Com isso em mente, juntei os 5 comentários mais freqüentes que encontrei por ai. Todos ouvidos por mães slingueiras:

1) Nossa! Coitada das suas costas!!

Já me sinto um pouco culpada em citar esse, pois claro que as pessoas tem a melhor intenção, e estão preocupadas com você. Porém, ouvir isso 20 vezes em um dia é um pouco irritante não? Ainda mais tendo que explicar que o modelo que estou usando é super confortável pra mim e pro bebê, que o peso dele está bem distribuído, que ele não está pendurado em mim, etc.

Ilustração daqui

2) Meu Deus! É seguro isso? (Incluindo Ele não vai cair ? Não está muito apertado? Tem certeza que ele está respirando aí dentro? Não tá machucando ele?)

Sim, é seguro, obrigada! Não, ele não vai cair, não está apertado e ele sim, está respirando! Existem regras de segurança a serem seguidas, como existe para qualquer forma de transportar seu bebê. Eu só acho engraçado que ninguém se aproxima de uma mãe com um bebê no carrinho e pergunta se o cinto não esta apertando ele, ou se aquele modelo de carrinho é seguro. Mas é só encontrar uma mãe slingando que a segurança do bebê vira o tema da conversa com estranhos.

3) Você não tem carrinho?

Essa é muito boa. Ou você não tem carrinho ou não tem dinheiro para comprar um. Só por isso você escolheria amarrar o bebê junto ao corpo. Aí você pode passar os próximos 30 minutos explicando para a senhora que te parou no supermercado os benefícios do sling, ou fazer um baita drama e aceitar uma doação para que você possa comprar um carrinho! Você escolhe!

4) Cuidado que ele vai ficar muito mimado hein!

Acho que essa é uma das mais comuns. A idéia de um bebê muito próximo à sua mãe causa estranheza. Essa coisa de carinho e apego é super perigosa para algumas pessoas. Aí você pode também investir uma hora para explicar os benefícios e citar as últimas pesquisas que provam o quanto o contato com a pele da mãe é necessário, que crianças que tem suas necessidades supridas, e tornam adultos mais seguros e independentes, o quanto seu bebê fica feliz e calmo no sling, aproveita e explica como aumenta sua produção de leite. Ou, faça como eu, e os pingüins de Madagascar: apenas sorria e acene.

Ilustração de Betina Bexte

5) Como você amarrou isso? Que complicado!

Precisa de um curso para aprender a amarrar um sampawrap? Eu sempre faço questão de amarrar em público, só para ver a reação das pessoas que observam atentamente e tentam entender “como que esse bebê está amarrado aí dentro”. Na verdade a amarração é muito mais simples do que aprender todas as funções, botões, alavancas de um carrinho supermoderno. Mas para as pessoas parece um origami! Eu recomendo que você diga mesmo que foi super complicado mas que você tira de letra. Porque você é fantástica!!

E vocês, já ouviram comentários estranhos? Contem para a gente!

6 de julho de 2015

A idéia não é sua! Apropriação Cultural na Comunidade do Nascimento

O artigo de hoje nos trouxe uma poderosa reflexão sobre o cuidado constante com as origens do Babywearing e outras práticas de apego, tão comumente apropriadas pela cultura branca mercantilista, à exemplo do que acontece nas esferas do parto e amamentação. Aamina é Doula, artista e poeta, de origem indígena-americana, que tem como objetivo transformar as doulas mais acessíveis para as comunidades marginalizadas como as mulheres negras, lésbicas/gays, transgênero e famíias queer.

Leia o relato dela sobre a apropriação cultural do uso do Sling e reflita conosco!
As imagens ilustrativas são parte da pesquisa que fizemos para essa postagem e contam com os devidos créditos. 

***
Em livre tradução pela Sampa Sling

Estudei todos os livros que pude encontrar sobre o parto e parentalidade na minha biblioteca local quando eu estava grávida pela terceira vez. Era a minha primeira gravidez viável, 19 anos atrás. Eu era uma jovem de raça mista e meu parceiro um jovem nativo, mas eu tinha sido adotada e criada por uma família branca. Saber que eu estava à caminho de ser uma mãe com tão pouca conexão com a minha cultura me deixou ansiosa para aprender sobre de onde eu realmente vim.

As opções de livros da biblioteca eram bastante limitadas, por isso provavelmente foi um milagre que eu tenha descoberto um pouco sobre babywearing. Eu nem sequer imaginava que ainda existem mulheres nativas que usam ''cradleboards'' tradicionais, então eu comprei um carregador frontal do tipo que não existe mais. Quando meu filho tinha três dias de idade, eu usava-o no ônibus para sua primeira consulta no pediatra. Descobri que o carregar dessa forma era uma prática de empoderamento. Ele ajudou a mantê-lo calmo, e manteve as minhas mãos livres para escrever longas cartas para o pai dele, para lavar a roupa, e para ser capaz de fazer as coisas que eu precisava fazer.

Apache "cradleboard"- 1914 : fonte da imagem

Somente cerca de sete anos mais tarde, quando eu tinha um parceiro da Nicarágua, que eu tive a oportunidade de ver as mães da América Central que vestem seus bebês em suas costas em cobertores. Nos últimos 10 anos, graças à internet, tenho visto um ressurgimento da informação acessível sobre babywearing. Infelizmente, a maioria das informações é de marketing: e voltada para as mulheres brancas da classe média, muitas vezes com pontos de venda sobre este grande fenômeno "novo" e exigindo engenhocas caras, enquanto desconsidera as comunidades não brancas em que babywearing tem sido o normal desde o início dos tempos. 

Isto é evidente quando percebemos a falta de famílias negras na maioria das campanhas de marketing e até mesmo de mídia social. Quatro anos atrás eu comecei um Tumblr dedicado a apenas mostrar pessoas não brancas slingando, e era difícil encontrar fotos para postar (o que, desde então, melhorou um pouco). Esse tumblr também foi recebido com raiva por mulheres brancas, que diziam que não havia necessidade de um blog só para as famílias não brancas, e que era "excludente". Eles pareciam não enxergar a ironia desse termo.

Mãe e bebê na Guatemala: fonte da imagem
Kanga & Kitenge: Babywearing na África. Fonte da Imagem

Mãe e bebê Hmong: fonte da imagem

Do Quiche Maya da Guatemala ate o Zulu da África do Sul, para os Hmong das montanhas da Ásia, o babywearing sempre existiu e foi mantido por muitas mulheres, apesar da colonização e demandas para assimilar as normas européias / norteamericanas que subsumem nossas culturas tradicionais. Como a história do babywearing, a tradição de slingar a barriga também tem sido marginalizada por muitas pessoas, e ainda assim eu não sabia nada sobre isso. Somente no último verão eu fui ensinada como parte da minha formação de doula pelo ''International Center of Tradicional Chilbearing" como usar o envoltório de barriga (belly-binding) durante a gravidez para a sustentação, e após a gravidez como alternativa à cinta. De repente, muitos dos estilos de roupas tradicionais que incorporam lenços elaborados nos quadris ou envolvidos em torno da cintura no Nepal, Tibet, Egito, minha própria tribo, e outras culturas fazem novo sentido.

Imagine minha surpresa, encontrar este artigo no Mothering.com sendo amplamente compartilhado em mídia social por parteiras brancas que eu imaginava que fossem melhor informadas. A autora, uma mulher branca, diz que ela "descobriu" embrulhar a barriga como um instrumento de apoio a sua pélvis durante sua segunda gravidez. Enquanto slingar o bebê tornou-se mais comum, slingar a barriga ainda é uma maravilha a ser descobreta pelas mulheres brancas, mas como babywearing, as mulheres brancas têm felizmente aproveitado a ocasião para "ensinar" essas habilidades. Por alguma razão, elas se sentem compelidas a oferecer workshops com nomes exóticos que soam como "O uso do Rebozo Mexicano" e "Amarração Africana de Barriga" para fazer com que senhoras brancas se interessem. Não estou sugerindo que as mulheres brancas não deve praticar apoio / sling de barriga e babywearing. Os benefícios de ambos são tão grandes que eles devem ser amplamente conhecidos e praticados.

Fonte da Imagem

O que me trás desconforto são mulheres brancas escrevendo artigos onde dizem que "descobriram" essas técnicas e falam como autoridades do assunto sem nunca dar crédito à história e verdade cultural destas técnicas. Dar crédito significa muito mais do que usar uma palavra "estrangeira" e uma impressão "étnica" bonita em seu site e folhetos. Significa, também, um aprofundamento maior do que referenciar as práticas "típicas" de uma ou duas culturas que não têm nenhuma conexão significativa com elas. Eu tenho um problema com mulheres brancas oferecendo workshops, e sendo pagas para fazê-lo, para introduzir outras mulheres, predominantemente brancas a estas técnicas sem questionar por que elas acham que são as especialistas no assunto, por que elas estão ensinando as mulheres, predominantemente brancas , o quão apropriadoras elas estão sendo, e como integrar mais profundamente o crédito dessa cultura onde devido, com uma compreensão adequada da história e significados culturais de tais práticas em comunidades não-brancas. É um problema para mim quando eu tento compartilhar o conhecimento de minhas próprias culturas com mulheres marginalizadas que procuram essa ligação cultural, sou atravessada por mulheres brancas que foram a um treinamento ou leram um livro, mas nunca realmente trabalharam com alguém da minha cultura.

Os pais não brancos muitas vezes falam sobre como encontramos duas reações comuns quando fazemos as coisas que temos recuperado como parte do processo de  conexão com as nossas próprias culturas. Ou as pessoas nos dizem que somos "atrasados" e que essas coisas são "primitivas"; nos dizem que hoje há ciência (porque o que os nossos antepassados , obviamente, não se basearam em qualquer ciência) e novas teorias e etc. Ou eles exotizam as nossas práticas culturais e querem ouvir tudo sobre isso e, se estamos abertos a compartilhar, eles de repente se tornam "especialistas" sobre o assunto e pouco depois os encontramos ensinando ou escrevendo artigos desagradáveis ​​tais como os que estou linkando nesse texto. Muito parecido com outros métodos de "mater/paternagem naturais" que se tornaram populares de novo em culturas brancas, há pouca reflexão de como a colonização tentou desesperadamente separar as famílias não brancas da amamentação, babywearing, e outros métodos de cura tradicionais. Parteiras e doulas passam a ser associadas a uma classe de privilégio, muitas vezes completamente inacessíveis às comunidades mais marginalizadas que seriam realmente beneficiadas com mais acesso a esses profissionais. Parto domiciliar é dado como algo que uma família branca pode escolher, mas as famílias não brancas são agora forçadas a aceitar procedimentos médicos invasivos sob a ameaça de ter seus filhos retirados da casa com acusações de negligência médica.

Vale a pena notar que as formas tradicionais de babywearing e de suporte de barriga não exigiam possuir vários  wraps ou slings de US$50 a US$200. Tudo o que precisa é um lenço longo, pedaço de tecido, ou cobertores. Pode-se argumentar que era apenas uma questão de tempo antes que os wraps fossem comercializados, e que o marketing de wraps está respondendo a uma demanda. Por outro lado, gostaria de sugerir que essa comercialização é exatamente o que faz com que essas opções pareçam "não para você" para muitos pais pobres não brancos para quem tal despesa simplesmente não é realista. Em vez de ensinar que o suporte da barriga o e babywearing pode ser feito com um produto, e mostrando como qualquer lenço de um determinado tamanho pode ser funcional, comercialização sugere que babywearing é complexo e caro. Para as mulheres pobres e não-brancas que estão também mais sujeitas a acusações de cuidados negligentes, a questão da segurança também é muito real. Os comerciantes são rápidos em sugerir que os transportadores são necessários para a segurança, à despeito do fato de que as mulheres de todo o mundo continuam a usar seus bebês com um bom lenço de algodão, e sem problemas. Não é sobre o tipo ou o custo de seu sling, é sobre estar bem informado sobre como usá-lo de forma segura. O acesso ao conhecimento tradicional dos nossos antepassados ​​e apoio a reconhecer que a sabedoria e a metodologia é um ingrediente-chave em falta porque foi apropriado por mulheres brancas que não conseguem fazer divulgação para as comunidades de onde roubaram as tradições.

Nós todos queremos o que é melhor para os nossos bebês. Como doula, eu digo às famílias que a coisa mais importante é que eles tenham todas as informações necessárias que lhes permitam fazer escolhas educadas e conscientes sobre o que é melhor para sua própria situação e necessidade. Isso é verdadeiro independentemente da sua cultura ou etnia - conhecer as opções  é inestimável. Infelizmente, existe uma real disparidade no acesso a essa informação, e a falta de apoio culturalmente competente, para muitas famílias não brancas. Quando as mulheres brancas levam o crédito por descobrir as nossas tradições, isso que desonra a nossa história e as nossas culturas, enquanto retém o apoio que essas tradições representam para aqueles que as vêem como uma forma valiosa de acessar nossos próprios poderes ancestrais. Apropriação não é um ato inocente. Isso nos dói economicamente, em disparidade de saúde, em comportamentos micro-agressivos que eu diria não são micro coisa alguma, mas sim contribuem diretamente para a continuidade dos sistemas de marginalização.

http://aaminahshakur.tumblr.com/post/102993343505/not-your-idea-how-to-avoid-cultural-appropriation