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27 de junho de 2016

A abordagem Colo Com Amor

A abordagem Colo Com Amor é uma construção coletiva da Rosângela Alves em parceria com várias mães e pais interessados na promoção da cultura de colo. Temos nos encontrado virtualmente em um grupo de discussão, que reune profissionais da saúde, empreendedoras do carregamento com pano, usuários e entusiastas da prática.

Para conhecer todo mundo, peça para entrar no grupo: Colo Com Amor no Facebook

A abordagem Colo Com Amor tem por característica primordial a disseminação dos saberes sobre bebês de colo e troca de experiências, com enfoque para a produção (intelectual e prática) BRASILEIRA. O que significa que é uma abordagem nacional, para reunião e registro da cultura de colo no Brasil atual.

Depois de um tempo de muita conversa e reflexão, troca de experiências e estudo de evidências, elaboramos algumas diretrizes da abordagem - para clarear o que nos motiva e nos diferencia, frente a tantas outras formas de se enxergar o carregamento no pano.

Hoje você conhece nossas diretrizes, leiam! Vocês vão gostar!




DIRETRIZES COLO COM AMOR


Entendimento integral das coisas

A aborgadem Colo Com Amor é de embasamento holístico. E por holístico, temos o entendimento integral das coisas. O olhar para o todo que envolve uma mãe, seu bebê e a saúde de ambos, no encontro de várias áreas de conhecimento. Observamos o colo como uma prática, aprendizado e manifestação cultural apoiada em uma série de sabedorias. Desde a bagagem ancestral, a quem honramos e respeitamos, passando por aspectos do desenvolvimento motor, psicosocial e emocional dos bebês e necessidades reais das mães (ou outros adultos carregadores).


Princípio Humanizante

O contorno da abordagem Colo com Amor, é o princípio básico da humanização. Em oposição à outras abordagens em desenvolvimento no mundo da cultura de colo, o colo é a finalidade, e os panos são o meio. E entre essas duas coisas existe um universo de vivências que entendemos ser o modelo humanizado. Parafraseando Antônio Cândido, entendemos que humanizar a prática significa "confirmar no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, o senso de beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor”. 


Escuta ativa 

Em sintonia com o princípio humanizante, entendemos que o uso dos carregadores se apoia em diversos saberes e é transferido entre pessoas interessadas tanto em manter viva a cultura do colo como em gozar de seus benefícios inestimáveis, porém pessoas em contextos. E contextos são múltiplos, tanto quanto as pessoas. Sendo a interação entre os indivíduos e o meio uma condição para a aprendizagem, não estabelecemos regras rígidas à priori no que diz respeito à posição do bebê, tipos de amarração, tipos de tecido ou afins. Na abordagem Colo Com Amor a escuta ativa das especificidades é mais importante do que ideais de perfeição. A vivência plena da maternidade e proteção afetuosa da primeiríssima infância são mais importantes do que as técnicas. Este princípio se estende tanto para o adulto carregador como para o bebê carregado, que vemos deliberadamente esquecido por abordagens não humanizadas de carregamento. 


Balizas de Segurança

Em constante articulação entre teoria e prática, aprendemos que há algumas balizas de segurança para o uso de carregadores, no que diz respeito à posição do bebê e qualidade dos tecidos e amarrações. As balizas de segurança não são regras, e sim observações óbvias para pragmaticamente evitar acidentes. De maneira nenhuma entendemos que as balizas de segurança podem ser usadas para oprimir, coagir ou interferir na simbiose entre bebê e adulto carregador. No entanto, cabe a observação dos seguintes aspectos (baseado no TICKS, conjunto de segurança para carregadores desenvolvido em 2010 no Reino Unido)




BRAQS

1) Bem Ajustado: Slings e carregadores devem ser apertados o suficiente para manter seu bebê perto de você da forma que seja mais confortável para ambos. Qualquer folga / tecido solto permitirá que seu bebê a deslize no tecido, o que pode dificultar a sua respiração e forçar as suas costas. Consideramos aqui os nós dos carregadores, bem como a qualidade das argolas e fivelas no que diz respeito ao peso suportado e condições de travamento. Essa baliza norteia a segurança mecânica do carregador e do bebê no carregador.

2) Rosto visível: você deve sempre ser capaz de ver o rosto do seu bebê, simplesmente olhando para baixo. O tecido de sling ou carregador não deve se fechar em torno do bebê. Em uma posição berço ou colo, o bebê deve estar voltado para cima não estar virado para o seu corpo. Assim como em posição de colo natural, ou quando colocado no berço, o rosto do bebê deve estar visível, e não coberto por panos ou cobertores. Essa baliza diz respeito tanto à segurança contra asfixia do bebê mas é um convite de atenção do adulto carregador, tal e qual é demandada para um bebê fora do carregador. Olhar o rostinho do bebê pode alertar para qualquer desconforto.

3) À distância de um beijo: a cabeça do bebê deve estar tão perto de seu queixo quanto for confortável. Inclinando a cabeça para frente você deve ser capaz de beijar seu bebê na cabeça ou na testa. Essa baliza diz respeito à altura do carregamento, para evitar exclusivamente que os solavancos do caminhar do adulto atuem como pêndulo em um bebê colocado muito baixo. Ainda assim é relevante notar que na abordagem Colo Com Amor, compreendemos que o corpo do adulto contempla também uma série de variáveis. Por exemplo, é comum que quando carregados por homens, os bebês e adultos estejam em uma posição mais confortável - e igualmente segura - um pouco mais abaixo da distância do beijo. Ou ainda, que algumas ocasiões peçam por um carregamento nas costas. 

4) Queixo afastado do peito: um bebê nunca deve ser curvado de forma que o seu queixo seja forçado sobre o peito, pois isso pode restringir sua respiração. Garantir que há sempre um espaço de pelo menos um dedo de largura sob o queixo do seu bebê. Essa baliza tem a finalidade de promover posição fisiológica natural da traquéia do bebê e não significa que este deva ser carregado apenas verticalmente. No entanto, aponta que, nos carregamentos semi-deitados e mais enrolados, a pressão do tecido não deva exercer força sobre a cabeça de modo a enrolá-la sobre o pescoço o suficiente para provocar sufocamento. 

5) Suporte nas costas: Em um carregamento vertical o bebê deve ser carregado de forma que ele fique confortavelmente perto da pessoa que o carrega, com as costas suportadas na posição natural e barriga contra o adulto. Se um sling é muito frouxo, o bebê pode deslizar no tecido, o que pode fechar parcialmente suas vias aéreas. (Isto pode ser testado colocando a mão nas costas do seu bebê e pressionando suavemente - ele não devem se enrolar ou se mover muito em sua direção). Um bebê em um carregador de posição berço/colo deve ser posicionado com cuidado com a sua parte inferior na parte mais profunda do tecido, de modo que o sling não o dobre ao meio pressionando seu queixo contra seu peito. 


Múltiplas Fontes de Saber: 

A abordagem Colo Com Amor, assim como qualquer prática humanizada, se apoia em múltiplas fontes de conhecimento, sendo principalmente:
- a bagagem ancestral da cultura de colo através dos tempos e por todo o mundo.
- a experiência das promotoras da cultura de colo no Brasil e no mundo: parteiras, doulas, médicas e médicos pediatras, consultoras, fabricantes, vendedoras e mães que vem compartilhando suas vivências de forma gratuita e generosa. 
- a inteligência técnica e científica de variados estudiosos sobre aspectos variados do desenvolvimento de bebês.
- os saberes de ordem intuitiva, instintiva e não mensuráveis das relações entre mães e bebês.

O Colo é maior que o pano
A história do carregamento de bebês através do tempo e pelo mundo é marcada pela versatilidade e pluralidade de formatos, tipos de tecido e posições do bebê. A matriz têxtil de cada região em combinação com fatores geográficos (clima) e aspectos socio-culturais (tipo de atividades exercidas pelos adultos carregadores) determina a predominância de um ou de outro modelo ou posição de colo. Nas tribos indígenas brasileiras por exemplo, há uma larga utilização de tipóias trançadas. Tipóias que vemos também em comunidades ancestrais africanas, mas que fazem bom uso do couro. Povos com tradição em plantio de algodão, cardagem e fiação, tem em sua cultura de colo tecidos retilíneos. Nas populações onde as mulheres-mães atuam em atividades manuais como colheita, ceifagem (entre outros) é comum que os bebês sejam carregados nas costas. Em localidades frias, o bebê é enrolado em mantas antes de ser colocado no carregador. Tudo isso para estabelecer que a abordagem Colo Com Amor considera os aspectos climáticos, sócio culturais, do desenvolvimento do bebê, do conforto do adulto carregador e da disponibilidade dos tecidos, em combinação com as nossas outras diretrizes já descritas. Na sociedade contemporânea, as propagadoras da cultura de colo dentro da abordagem Colo Com amor atuam na pesquisa, confecção, venda, educação, disseminação e vivência da prática de forma transdisciplinar, de modo que constroem a abordagem de forma autoral, flexível e baseada na práxis cotidiana para além dos textos científicos.


Tecnologia Social

A abordagem Colo Com Amor entende o uso do carregadores de pano e facilitadores de colo como uma tecnologia social. Acreditamos que carregar bebês é sabedoria feminina que deve ser compartilhada, estimulada e preservada, e se em algum momento o elo desta corrente se quebrou, cabe à nós reconectá-lo. Portanto promovemos a disseminação desse conhecimento de variadas maneiras. Em encontros coletivos, rodas maternas, entre consumidores e clientes, através das redes digitais, e, nos casos das pessoas que fabricam carregadores de pano, em suas lojas, eventos e oficinas. A abordagem Colo Com Amor privilegia a transmissão gratuita, horizontal e democrática desse conhecimento, não tendo as consultorias particulares e cursos de formação como foco de atuação. Colo Com Amor, é uma abordagem com menos apelo mercadológico e mais apelo social. 


Evidências Científicas, Estudiosos e Bibliografia da Abordagem Colo com Amor: 
A abordagem Colo Com Amor entende o material acadêmico como apoio para proteção da cultura de colo frente aos interesses de grandes iniciativas, que no último século vem lucrando com a tendência vigente de separar fisicamente os humanos de suas crias. Assim, a comunidade científica só vem confirmar o que já sabemos: colo faz bem. A abordagem colo com amor não usa o resultado de pesquisas como fonte de imposição de regras, e sim os observa criticamente em sincronia com todas as diretrizes que a norteia.

DOWBOR, Fátima Freire. Quem educa marca o corpo do outro. São Paulo: Cortez, 2007. GUTMAN, Laura. A maternidade e o encontro com a própria sombra. Rio de Janeiro: Best Seller, 2010.
______________. O poder do discurso materno. 1 ed. São Paulo: Ágora. 2013. 
______________. Mulheres visíveis, mães invisíveis.1 ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013. KARP, Harvey. O Bebê mais feliz do pedaço. São Paulo: Planeta, 2004. 
LIMA, Elvira Souza. Como a criança pequena se desenvolve. São Paulo: Inter Alia, 2010.
NICOLESCU, Basarab. O Manifesto da transdiciplinaridade. São Paulo: TRIOM, 1997. 
STRUYF, Godelieve Denys. O método das cadeias musculares e articulares: o método G.D.S. São Paulo: Summus Editorial, 1995. 
TRINDADE, André. Gestos de cuidado, gestos de amor: Orientações sobre o desenvolvimento do bebê. São Paulo: Summus Editorial, 2007. 
BÉZIERS, Marie Madaleine. O bebê e a Coordenação Motora: Summus Editorial.
WINNICOTT, D.W. Os bebês e suas mães. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
_______________. A criança e seu mundo. 6 ed. São Paulo: LTC, 2013.

22 de junho de 2016

Por que a Slingada é uma marca registrada? Rosângela Alves explica

Sling é um nome em inglês.
No nosso contexto, poderia ser traduzido como rede, ou tipóia.
Mas essencialmente é também um verbo, para pendurar, içar, carregar…


No exterior, a prática de carregar um bebê com o auxílio de um suporte, se chama Babywearing. Quer dizer, literalmente, Vestimento de Bebê. Aqui no Brasil, "Slingar" foi um dos neologismo adotados para traduzir essa ação, de carregar o bebê. Muito embora a alcunha "Babywearing" esteja sendo usada cada vez com mais força. 

Quando a Sampa Sling em 2005 começou a fabricar seus carregadores, a prática do Babywearing contemporâneo era muito incipiente. Se hoje, ainda somos olhadas como mulheres "alternativas" (para não dizer verdadeiras aberrações) carregando um bebê amarrado ao corpo, naquela época nem palavras existiam para definir o que estávamos fazendo.

Eis que muito antes de uma empresa de carregadores, em um tempo em que poucas pessoas conheciam a prática de carregar bebês com panos, já aconteciam eventos em torno desse tema. Uma mulher mais experiente, encontrava outras menos experientes, e passava seus conhecimentos. Em poucos encontros, a sabedoria se multiplicava. Era transmitida para alguém lá em casa, era colocado em um vídeo na internet, também ainda muito tímida, há quase 10 anos.

Para além de celebrar uma cartilha de regras de como carregar seu filho no colo, esses primeiros encontros eram de troca, empoderamento. De conhecimento e troca sobre colo, afeto, amamentação, e cura para as dores do parto. Eu, Rosângela, com o tempo, deixei de ser aprendiz. E os encontros ganharam um nome: vamos fazer uma SLINGADA?

Esta é a primeira Slingada, na casa da Analy

Era um evento informal, que acontecia no quintal da casa de alguém. Você pode ler mais sobre a história da primeira slingada aqui. E nesta interessante postagem original, da Analy Uriarte, a precursora da cultura de colo no Brasil urbano. Alguém trazia um bolo, os bebês brincavam. As puérperas saíam de casa e se apoiavam para seguir carregando seus bebês, como até há pouco faziam com tranquilidade nas barrigas.

Quando eu assumi a Sampa Sling, a Slingada já era uma característica atrelada da marca. E não havia ninguém fazendo nada parecido, afinal das pouquíssimas marcas que atuavam na confecção e venda de slings, apenas a Sampa Sling investia nos encontros presenciais.

E investir significava dedicar um fim de semana por mês, no mínimo, para estar ali. Presencialmente, atendendo quem quisesse saber. Dividindo o que eu havia aprendido. Dedicar um outro tanto de tempo para encontrar um lugar, para informar as pessoas. Investir significava muitas vezes ficar sem vender um único sling por muitos meses! Ou ter uma Slingada de quatro horas com apenas uma participante. Fazer slingada em protesto, na chuva, na sala de casa. Trabalhei muito!

Em 2011 junto com o Materna em Canto - na Marcha em defesa das Obstetrizes
Em 2012 no Espaço Nascente
No Sesc Interlagos
No parque da criança
Na livraria 
A Slingada se oficializou como evento permanente em vários espaços (veja a agenda de Slingadas

Em 2015 abri minha própria loja física, o Espaço Sampa Sling que é a casa oficial da Slingada, gratuita e permanente.
Com o advento da internet, com os avanços das pesquisas científicas acerca da criação com apego - que começaram a provar o que a gente já sabia, que colo é bom, amor não faz mal - os slings começaram a ganhar mais espaço no gosto e na prática das mães contemporâneas. E com isso, muita gente começou, assim como eu, a fazer da confecção e venda de slings e outros carregadores, uma atividade profissional.

Nesse crescente, outros encontros para consultoria e venda de slings começaram a ser organizados! Ótimo! Sempre entendemos nosso negócio como algo positivo para o coletivo, e quanto mais mulheres aprendessem e pudessem ter acesso a um carregador de pano, maior impacto para os bebês, melhor para o mundo! Para mim, para minha marca, para as pessoas que eu atendo e para o mundo, o carregador de pano é uma Tecnologia Social. Um jeito de melhorar a vida. Isso faz parte da minha abordagem de trabalho há quase dez anos. 

Em 2014 eu comecei a fazer Slingadas Solidárias no Amparo Maternal. Coleto doações de carregadores e vou até o amparo, me disponibilizando a compartilhar o que eu sei com mães que estão em situação de risco. Tenho aprendido mais com elas do que elas comigo, certamente. 

Mas, muitas vezes esses encontros que são organizados em diversas partes do país, não celebram os mesmos valores, construídos mês à mês, bebê à bebê, da Slingada Sampa Sling. É natural que com a crescente adesão ao carregamento com facilitadores de colo, várias visões e abordagens tenham surgido.

Então começamos a ver consultoras optando por fazer workshops pagos sobre slings: e chamavam de Slingadas.
Vendedoras que faziam uma venda especial em um determinado dia, sem prestar atendimento de consultoria: e chamavam de Slingada.
Pessoas organizavam eventos com entrada paga: e chamavam de Slingada.
Confecções de slings ofereciam cursos de formação para futuras consultoras: e chamavam de slingadas.
Venda casada de slings - o cliente comprava o carregador e tinha que pagar pela consultoria: e chamavam de slingada! 

:(

Assim, foi uma decisão da marca Sampa Sling reservar os direitos de uso de nosso trabalho, construído com base nos valores que celebramos, através do registro de Slingada. 

Slingada é o encontro sobre slings da Sampa Sling. 

E fazemos votos para que todos os empresários, micro empresários, pequenas e grandes iniciativas que trabalham com a difusão do carregador de pano possam se inspirar pela nossa história para criarem, organizarem e nomearem seus próprios eventos, cursos, palestras, encontros e workshops. 

Neste ano de 2016 eu enviei o primeiro lote de carregadores da Sampa Sling para Londres. Eles fazem agora parte do acervo do encontro de slings de lá, que se chama Sling Library - e trabalha com um esquema de empréstimo e aluguel de carregadores com educação voluntária para seu uso

A Slingada atua com base na abordagem criada pela Sampa Sling, em parceria com outras mulheres, mães e profissionais do colo: uma abordagem humanizada, cujas diretrizes estão sendo trabalhadas há anos, mas que recentemente ganhou um nome oficial. Colo Com Amor (à partir da palestra do III Simpósio de Assistência ao Parto, onde eu tive o prazer de apresentar, junto com Tatiana Tardioli, os preceitos da nossa abordagem de carregar, que leva consigo toda essa história). 

Vamos falar muito de Colo Com Amor por aqui!
Para finalizar, deixo registrado:

A Slingada é:


- Gratuita;
- Colaborativa;
- Oferece consultoria sem custo para qualquer pessoa interessada;
- Independente do produto (ou seja, as pessoas podem vir na Slingada e trazer qualquer marca de carregador que serão carinhosamente assessoradas, sem julgamentos, sem opressão);


A Slingada almeja:


- Estar em cada vez mais espaços;
- Difundir a abordagem de carregamneto Colo Com Amor;
- Alcançar cada vez mais pessoas;
- Respeitar sua história e valores originais.
- Honrar o caráter intuitivo e aspectos integrais do uso dos facilitadores de colo e das características individuais de cada bebê, mãe e família.

com carinho,

Rosângela Alves

12 de abril de 2016

O colo de mãe resiste

Você já deve ter ouvido falar por aí de uma série de "regras irrevogáveis" para o carregamento de bebês com o auxílio de um pano, vulgarmente conhecido como Babywearing.

Há quem invista tempo e energia em provar que existe somente um tipo de tecido recomendado. Há quem invoque a profissionalização urgente da prática. Há quem sugira que seu próprio conjunto de crenças é a única e exclusiva possibilidade para 100% dos bebês. Há quem diminua e descredibilize a experiência de outras abordagens para o carregamento dos pequenos.

O fato é que, como atuantes da prática comunitária que favorece o carregamento de bebês através das múltiplas possibilidades de aparatos, prática que que tanto amamos, temos visto discursos autoritários e rígidos ganhando força aqui no Brasil, supostamente apoiados por "estudos científicos". 

Se por um lado a ampliação do conhecimento técnico humano sobre qualquer área nos permite evoluir e melhorar (e por isso somos gratos), se por um lado ainda a prática comercial da fabricação e venda de carregadores de bebê, bem como consultorias para o tema, tem representado fonte de renda e empoderamento para muitas mulheres mães (e por isso igualmente lutamos), por outro essa parcela tecnocrata do carregar bebês parece ter perdido de vista o básico, sob discursos que escorregam pelo fetiche de conquistar e dominar o que é de todos.

Mas o colo de mãe resiste.

Mãe e Bebê no Alaska - fonte da imagem

Desculpem-nos pesquisadores e grandes estudiosos da ciência, e deêm nos licença os porta-vozes comerciais dessas supostas regras, mas é (antes de tudo!!) natural e intuitivo, o hábito milenar de se carregar os bebês no colo com o auxílio de um pano. E isso se expressou nas mais variadas culturas ao longo da existência da humanidade. E isso foi fundamental para a nossa sobrevivência do amplo ponto de vista da evolução. E isso foi, e é ainda, praticado por inúmeras mulheres mães, em inúmeros tipos de carregadores com inúmeras variedades de tecidos e posições inúmeras para seus bebês.

O nome dessa sistematização e imposição de prática única é colonialismo. 

E o colonialismo, como sabemos, tem seus requintes racistas e opera em benefício próprio. E o colonialismo, como sabemos, atua perniciosamente vendendo um suposto benefício para todos, mas mascara o apagamento das possibilidades já vivenciadas e construídas por muitos. O colonialismo, como sabemos é verborrágico, insistente e usa o medo como forma de controle. E naturalmente, se contrariado, costuma apelar para a violência explícita.

Podemos interpretar essa necessidade de colonizar a prática do outro como uma grande paixão narcisista por sua própria atividade, o que viria de um desejo genuíno, mas falacioso, de fazer o bem. Ou podemos ainda entender que as necessidades mercadológicas dentro do crescente mercado de carregadores e consultoria - enquanto atividade comercial - tem seu papel atuante nos discursos rígidos insurgentes. Mas essas motivações pouco nos importam.

Nos importa ampliar a reflexão, reforçando nossa missão de empresa atuante no mercado e na cultura do colo de mãe. O colo resiste.

Crianças no Vietna - Foto Anna Aleksandrova - National Geographic

E para tanto levantamos aqui o exemplo da controvérsia que permeia os Aguayos e Chumpis, tradicionais formas de enrolamento e carregamento de bebês e crianças Andinas. Em sua pesquisa de doutorado a socióloga boliviana Ivonne Martinez relata como as tendências européias para os cuidados de puericultura influenciaram as tradições do povo andino-boliviano. "Componentes psicomotores y psicosociales del aguayo y el chumpi en la crianza infantil" é o livro que revela a existência de uma etno-medicina, ligada à etno-andino-psicologia. Abordagens para o tratamento do assunto de carregar bebês no colo que estão para além das recomendações técnicas. Que tem à ver com o cuidado físico e emocional de crianças em seus contextos, no caso desse estudo em específico, de herança Andina.

Alguns trechos traduzidos do livro da professora Ivonne Ramirez você verá aqui, no blog da Sampa Sling.

Queremos com esse exemplo pontuar que culturas foram totalmente dizimadas por essa visão eurocêntrica do mundo. De acordo com Ramirez, na tradição Boliviana de carregar bebês no colo não foi diferente.

Bebê Boliviano - foto NPR


À despeito das tradições milenares dos indígenas brasileiros e seus bebês na tipóia, para a mãe contemporânea e especialmente urbana, a comunidade de carregamento de bebês no colo aqui no brasil é relativamente jovem. 

Se por um tempo estávamos trabalhando pelo resgate da prática contra os interesses de grandes indústrias que lucram não apenas com aparatos caríssimos e requintados para o carregamento de bebês mas também com as potenciais consequências da falta de colo, vínculo e amor, agora temos que resistir também aos discursos daqueles que, como nós, também acreditam nos benefícios dos facilitadores de colo: mas insistem no monopólio de práticas e no apagamento da história e cultura alheia.

Só que o colo de mãe resiste.

Mãe e bebê na Etiópia - Fonte da Imagem

Não aceitamos que a ancestralidade, pluralidade e liberdade do carregamento de bebês no colo, através do mundo inteiro, seja invadida por aquilo que supostamente rezam as cartilhas científicas da Europa apenas. Protegeremos o a parte que nos cabe da cultura de colo Brasileira, de modo que ela possa se desenvolver dentro de suas peculiaridades e heranças multi culturais. Nosso modo de assim fazê-lo é mantendo nosso compromisso diário de estimular e apoiar o vínculo entre pares, os humanos dessas relações, o amor, a finalidade e não apenas o meio.

Renovamos aqui os votos da Sampa Sling em manter-se como referência em carregadores de pano em esfera nacional, contribuindo para a criação, implantação e disseminação do carregar bebês brasileiro, com respeito às heranças culturais, investimento no empoderamento feminino, aprendizagem constante, ampliação de acesso e liberdade baseada em escolhas informadas para cada binômio peculiar de mãe e bebê. 

Mãe e bebê Ka'apor - Fonte da Imagem